No Natal,
conversando com uma amiga que teve o merecimento e a coragem de doular a
própria filha durante o nascimento da neta (e olha que essa amiga nem é Doula e
seus partos foram todos cesarianas eletivas, por escolha própria) conversávamos
do desejo de algumas mulheres de hoje que assumem a empreitada de parir seus
filhos.
Realmente o fenômeno,
ao menos no Brasil, é de certa forma recente. Passamos por uma época onde parir
fisiologicamente não era bem uma escolha, mas sim como dava para ser. Depois de
um tempo as cesarianas eletivas tomaram conta dos hospitais e as mulheres que possuíam
uma condição financeira favorável, não precisava nem ser rica, um plano de
saúde já era o suficiente, teriam o “privilégio” de parir “sem dor”, com data e
hora marcadas. Dava até para se preparar para o parto, fazer o cabelo, as unhas
comprar camisola etc e tal. De uns anos para cá algumas outras mulheres
começaram a refletir a respeito dessa forma “programada” de nascer. Eu mesma,
das tantas amigas que fiz na adolescência e vida adulta, conto nos dedos de uma
mão só (e ainda me sobraram dedos) aquelas que ao menos se permitiram entrar em
trabalho de parto antes de permitirem que seus filhos nascessem através de uma
cirurgia eletiva.
De fato, ter
parto natural ou mesmo humanizado é algo que não é para qualquer pessoa, ainda que
a informação esteja disponível para todas que queiram procurar. Digo isso não
para me vangloriar de ter tido um ou coisa do tipo. Longe disso. Acontece que a
mulher ou o casal que decide por um parto natural ou mesmo por um parto humanizado
precisa se dispor a sair da plateia e vir para o palco principal, se tornar
protagonista desse momento e isso não é todo mundo que está com disposição para
fazer. É muito mais fácil a gente se recolher na nossa suposta ignorância de “paciente”
e esperar que um médico nos diga o que fazer. Então a pessoa espera o médico
lhe dizer que pela ultrassonografia que seu filho tem quase 4kg e não tem condição
de nascer normal, ou que uma circular de cordão está no pescoço do seu filho e
ele corre risco ou mesmo que mulher inteirou 40 semanas e não dilatou!
O roll de
desculpas é vasto e cruel, mas pior que as desculpas dos médicos é a ingenuidade
das pessoas. Eu sou do tipo de pessoa que, por pior que seja, prefere a realidade,
por mais dura que ela seja, eu busco escolher a realidade. Quando estava
grávida, aos poucos fui percebendo que nenhum médico do meu plano de saúde me
acompanharia num parto normal durante horas (na época eu nem sabia o que era
parto humanizado), fui percebendo também que hospital nenhum me permitiria
liberdade para parir minha filha na posição que eu quisesse, bebendo pelo menos
água, ouvindo as músicas que eu gostaria de ouvir e com a presença constante do
meu companheiro. Aos poucos fui enxergando a realidade daquele caminho que era
seguir o protocolo médico dos planos de saúde.
Vejo que hoje
a gente ouve tantas mulheres que encaram a empreitada de parir seus filhos
porque apesar de tudo, essas mulheres querem a realidade. Por mais que seja
difícil e elas sabem que não será fácil, parir de forma amorosa, ou seja, sem
impor as mulheres constrangimentos e outras situações de violência que a gente cansa
de ouvir por aí como constantes em hospitais, principalmente públicos, é uma odisseia.
Nem todas conseguem, porque, como disse, é difícil mesmo. Às vezes a mulher se
prepara para isso, mas a situação que ela se encontra não lhe permite escolhas
(uma cidade pequena, por exemplo), às vezes ela até está numa cidade com mais
recursos para um parto humanizado, mas acredita que é muito caro e está fora da
sua realidade, enfim, são muitos os fatores que podem levar a uma situação de
frustração, mas no meu ponto de vista, essas mulheres ao menos deram um passo à
frente: foram em busca da realidade, não se iludiram com discursos que a
incapacitavam de dar a luz aos seus filhos. Não conseguiram
daquela vez, não por incapacidade, mas sim porque as condições não lhe
permitiram. Elas sabem, no fundo, no fundo, que são tão capazes quanto
tantas outras.
Por isso, concordo
e vejo também que hoje tem um tanto de mulher querendo parir, buscando se informar para isso e se empoderar
para isso. Acho um movimento magnífico porque acredito que essa busca é a
sementinha de novos tempos, onde as pessoas valorizarão o poder da criação, o
imponderável e perfeito poder da mãe natureza, que não por acaso está no
feminino em nossa língua e também não por acaso a tratamos como feminino, mesmo
quando a maltratamos. Há tantas mulheres querendo parir com respeito a sua
natureza porque estão querendo a realidade e isso é uma realidade, queiram ou
não queiram as nossas autoridades, médicos e familiares, essa é a nossa
realidade.
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